Contagem | 5 de maio de 2025

Dram debate a finitude do ser com o disco “Tenho Fim”

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Álbum inédito e recheado com participações especiais será lançado online no dia 15 de maio de 2025

 
 

O primeiro disco de Dram é uma ode ao juízo final. E o juízo final é uma trombeta individual — sem nenhuma relação religiosa ou espiritualista. Em nove faixas provocativas, a artista mineira questiona a finitude do ser. Não por acaso, ela batizou o álbum de “Tenho Fim”. O trabalho inédito chegará às plataformas online no dia 15 de maio de 2025.

“O álbum propõe uma reflexão sobre o fim da vida. Decantar o fim da vida, relembrando a nossa finitude, exaltando a pequenez de nossa existência nesse fragmento de tempo e espaço. A nossa espécie não é superior, não somos o centro do universo. O disco nos convida a repensar essa pretensa superioridade e a encontrar um lugar mais humilde e real no mundo”, explica Dram, que soma mais de dez anos de carreira artística.

“Tenho Fim” brotou de maneira natural. Dram não queria gravar um disco. A intenção era lançar experimentar. A artista, na verdade, estava fugindo da ideia de ter que criar um conceito para conectar as composições.

“Quando comecei a analisar as músicas, a procurar entender por que escolhi as canções e o por que eu sentia a necessidade de comunicar essas ideias, eu percebi que o tempo, a morte e a vida eram constantes. E que as minhas músicas eram respostas às minhas indagações.”

Dram, cantora e compositora 

Nessa odisseia de Dram pela vida, ou melhor, pela clara visão sobre o fim da vida, assim como por todas as dores e alegrias da existência, nasceu o single “TDAH”, um feat com Sara Não Tem Nome apresentado em março. Inclusive, Sara foi a pessoa que mais incentivou Dram a lançar um disco.

“É mais fácil patologizar as pessoas, criando a falsa ideia de que existe uma forma normal de ser no mundo, do que criar um sistema de organização onde todos os diversos tipos de pessoas sejam valorizadas pelo que são. Percebo que muita gente se identifica com a música e entendo que é por que ninguém aguenta mais tentar ser essa pessoa que a norma exige.”

Dram, cantora e compositora 

Com participações especiais de Lou Gomes, Sara Não Tem Nome, Chedinho e Raphael Sales, o disco “Tenho Fim” traz diferentes ritmos e sons, algo muito similar a própria vida, que não segue em um único acorde. “A minha música é uma mistura de ritmos, mas posso pontuar que tem reggae, baião, forró, pop, rock… dá para sacar algumas influências, mas não dá para definir. Se tivesse mesmo que classificar, eu classificaria como MPB”, pontua.

Nesse tempero de brasilidades, Dram traz “Ventania”, música que fala sobre o movimento da paixão; “Abelha”, sobre o nascimento e o desenvolvimento da vida de duas irmãs juntas; “Vida Simples”, sobre a saudade e a vontade de estar perto; e “Testamento”, que nasceu de uma experiência familiar.

“Eu dei um caderno lindo para minha mãe, mas, depois de muito tempo, percebi que ela não tinha começado a usá-lo. Quando a pressionei para usar o caderno, ela disse que ia guardá-lo para escrever o testamento dela. Aquilo ficou na minha cabeça e assim nasceu a música.”

Dram, cantora e compositora 

TODOS VÃO MORRER

Curiosa desde a tenra idade, Dram foi uma criança questionadora. “Uma pergunta que sempre me rodeou desde criança é: Por que parte dos humanos acha normal e incrível uma pessoa ter recursos maiores que os de países inteiros?”, dispara ela, que, baseada nessa pergunta, aos 12 anos, escreveu o verso: “O que vão levar se o mundo acabar agora?”. Falar abertamente sobre o fim da existência não foi uma ideia criada e patenteada pela artista.

Uma das inspirações de Dram é a médica Ana Claudia Quintana Arantes, especialista em cuidados paliativos e autora do livro “A Morte É um Dia que Vale a Pena Viver”. A especialista defende que não falar sobre morte é um problema.

“Encarar nossa finitude é essencial para cuidarmos da vida. Vivemos em uma sociedade que tem uma relação horrível com algo que vai acontecer com todos. Também não podemos banalizar, como vemos em atitudes seletivas, que normalizam a morte de crianças negras, pessoas trans e palestinas.”

Dram, cantora e compositora 

Para Dram, pensar na morte é pensar na vida. “É refletir sobre o que vale a pena ser vivido. Médicos que trabalham com cuidados paliativos observam de perto como é a aceitação da morte pelos seus pacientes. Eles dizem que um dos grupos de pessoas que mais sofrem com a ideia de morrer são aquelas que têm muito dinheiro. Para elas, é difícil acreditar que não há nada a fazer, mesmo com toda a riqueza que possuem”, explica a artista.

Dram lança o disco Tenho Fim

CRIA DE CONTAGEM

Além de musicista, Dram é professora de história. Ela faz parte da seara de artistas de Contagem, cidade da Região Metropolitana de BH, e vem ganhando território com uma arte provocativa e sensível. Além da cantora, “Tenho Fim” traz a arte de Débora Arau, Dayane Tropicaos e Sara Não Tem Nome, que assinam os visualizers e o videoclipe.

“Foi muito legal reunir com elas para fazer a parte visual do projeto, porque crescemos juntas, na mesma cidade, e começamos nossas trajetórias artísticas se apoiando e ralando muito. Além do mais, elas são artistas que eu admiro muito, são talentosíssimas, e eu sou fã demais das três”, conta a artista, que realizou o disco com recursos do Edital Movimenta Multilinguagens, do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura de Contagem. Nathália Layla assina as traduções em Libras, e Pedro Alporquia a coprodução artística. 

   

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