Betim | 13 de janeiro de 2025

Betim: artista visual mineira realiza murais em Luanda, na África

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Dri Sant'anna tem trabalho calcado na pesquisa das tradições africanas em Minas Gerais

 
 

Mineira nascida em Betim, na região metropolitana de BH, e residente no município de Cláudio, no Centro-Oeste de Minas Gerais, a artista Dri Sant’ana pintou dois murais em Luanda, capital da Angola, na costa ocidental da África. Os trabalhos foram feitos em parceria com os artistas locais Oksana Dias e Zbi e são frutos da residência artística “Angola Air: Encontros e Consonâncias com a Herança Afro Mineira”, aprovado na Lei Estadual Paulo Gustavo.

“Durante a residência, eu realizei esses dois murais em parceria com artistas de Luanda, fiz duas pinturas em tela e uma performance. Outros trabalhos inspirados na residência estão sendo realizados e serão expostos futuramente.”

Dri Sant’anna, artista visual

Além de materializar em novas obras toda a carga de conhecimento adquirida no período de 30 dias, a artista segue digerindo tudo o que aconteceu em sua existência em setembro de 2024. “Essa residência foi uma das coisas mais importantes que aconteceu na minha vida pessoal e profissional. Atravessar o Atlântico foi um ato de buscar minha ancestralidade. Impossível não me afetar por um movimento como esse. Aprendi e continuo aprendendo”, garante.

FOTOS ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO

Artista de Betim faz painéis em Angola

Durante a residência, a ilustradora, muralista e educadora, pesquisou e investigou a própria ancestralidade, as histórias que relacionam o Congado mineiro a Angola, assim como as ligações da religiosidade afro-brasileira com o país africano — motes históricos e sociais do povo negro em diáspora. E esse conteúdo experienciado pela artista está sendo desdobrado em estudos, performance, pinturas e retratos, tendo como base símbolos Adinkras.

“Os Adinkras são símbolos, e cada um possui um significado e uma mensagem. É uma tradição original do povo Ashanti, da África Ocidental, mas que pode ser encontrada em muitos lugares pelo mundo com o processo de diáspora africana.”

Dri Sant’anna, artista visual

DE BETIM PARA O MUNDO

Formada em Artes Visuais e com Mestrado em Educação pela UFMG, Dri pesquisa a herança africana em Minas desde a graduação. No entanto, como uma certa “coincidência do destino”, a herança afro-mineira sempre esteve presente na sua vida, principalmente por ter nascido em Betim, cidade que tem uma forte ligação com o Congado.

“Meu bairro de nascimento tem o nome Angola, e a principal rua do bairro é a Rua do Rosário, que se inicia onde há a igreja do Rosário, historicamente a igreja que os negros construíram para frequentar. Esses fatos são marcas da presença afro diaspórica na cidade.”

Dri Sant’anna, artista visual

Além dessa infância e parte da juventude no bairro Angola, em Betim, Dri, que desde 2019 vem realizando pinturas inspiradas no Reinado, reside, atualmente, em Cláudio, município reconhecido pelas Guardas de Congado, um dos objetos de pesquisa da artista durante a residência. Inclusive, de acordo com ela, o município conta com cerca de 15 guardas, que se diferenciam de acordo com os instrumentos, indumentárias e tradições, por exemplo:

  • Moçambique
  • Congo
  • Catupé
  • Vilão
  • Lavoura

“O foco da pesquisa foi as heranças africanas em Minas Gerais. Aqui em Cláudio temos a Festa de Reinado, e por participar de uma dessas guardas, eu me interessei em aprofundar sobre nossa ancestralidade africana em Angola. Eu participo do Terno de Congo de Nossa Senhora do Rosário do Corumbá, conhecida na cidade como Terno do Capitão Zé Côco.”

Dri Sant’anna, artista visual

Artista de Betim faz painéis em Angola

No seu retorno ao Brasil, Dri coordenou uma roda de conversa apresentando as tradições brasileiras que têm origens africanas e ainda hoje são influenciadas por Angola. “Ao chegar aqui, eu também realizei uma apresentação em Cláudio. Foi uma forma de mostrar como a nossa cultura é importante e tem origens que não podemos perder de vista. Como diz a sabedoria do Adinkra Sankofa: ‘Aprender com o passado para construir o presente e o futuro’.”.

A artista de Betim, que integra o coletivo ALA (Arte Livre Ambulante), tema de outra reportagem do site, prepara uma exposição individual onde estarão os trabalhos realizados em Angola e demais pesquisas, ainda sem data de abertura.

ANGOLA AIR

Angola Air é um programa de residências artísticas que recebe artistas visuais de diversos países que se interessam em pesquisar e conhecer a arte e cultura de Angola. Acontece em Luanda, capital da Angola, sob a produção do curador Dominick Maia Tanner. O projeto já recebeu artistas brasileiros como Nô Martins, Josafá Neves, Pedro Neves, Larissa de Souza, André Vargas, entre outros.

   

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